Doença Mental não pode ser ‘deixada de lado’
- Kimberly Melo
- 19 de nov. de 2016
- 4 min de leitura
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) os transtornos e doenças mentais afetam mais de 400 milhões de pessoas no mundo inteiro. O Brasil não fica de fora, cerca de 23 milhões de pessoas passam por este tipo de problema. Já nos Estados Unidos, cerca de uma em cada duas pessoas sofrerão com tais transtornos em algum momento da vida. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 75% a 85% das pessoas que sofrem dessas doenças não têm um tratamento adequado.
Embora os índices sejam preocupantes, ao se tratar do assunto, as redes públicas de todo o mundo ainda deixam a desejar. Os tratamentos oferecidos estão longe de serem os melhores. Não são feitos acompanhamentos adequados, e os planos de saúde cobrem pouco do que é necessário para o tratamento. Tais transtornos se não cuidados com atenção podem ser agravados, levando muitas vezes à morte.
O suicídio está no ranking do que mais matam jovens no mundo inteiro, ficando atrás apenas dos acidentes de trânsito, porém ultrapassando a AIDS e violência, como pode ser visto no gráfico abaixo.

“Muitas vezes, os que sofrem desses problemas não tem nenhum acompanhamento, e ao entrar em surto acaba acontecendo o pior, vindo a tirar a própria vida ou até mesmo a de pessoas que estão à sua volta.” - explica a psicóloga Ozinéia Pereira, de 39 anos.
No mundo ocorre pelo menos uma morte a cada 40 segundos. E, embora todas as pessoas estejam sujeitas a ter tais doenças mentais, pesquisas mostram que as classes mais baixas são mais afetadas pela doença.
“Minha filha desenvolveu depressão, ansiedade e TOC (transtorno obsessivo compulsivo) na infância. Nas crises ela ficava agressiva, gritando e dizendo que estava ficando louca. Algumas vezes ela tentou tirar a própria vida, mas por sorte não o fez. Foi um sacrifício achar um psicólogo especializado para ajudá-la, foram anos trocando de médicos até conseguirmos que a ensinou a ela e até a mim, como se controlar. Agora sabemos lidar melhor com isso e as crises não são tão constantes.” – afirma a mãe de uma adolescente que preferiu não se identificar.
Embora os problemas mentais sejam um problema social, nos Estados Unidos, cerca de 39% do orçamento destinado à saúde mental foi cortado. Já no Brasil, o orçamento aumentou 200% e ganhou Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) por todo o país, porém a eficácia desses Centros ainda é questionada.
“Com o fim do manicômio, foram criadas algumas possibilidades de tratamentos, como os CAPS e ambulatórios, porém as pessoas não têm um acompanhamento específico. O Brasil precisa criar meios para que o doente mental possa ter uma melhor qualidade de vida. É preciso um local que ele possa ser observado, medicado e acompanhado posteriormente.” – pontua a psicóloga.
O problema vai mais além. Dados da OMS mostram que em 2030, a depressão será a doença mais comum no mundo, e que irá gerar altos custos sociais e econômicos. O médico do Departamento de Saúde Mental da OMS, Shekhar Saxena, afirma que "o peso da depressão (em termos de perdas para as pessoas afetadas) vai provavelmente aumentar, de modo que, em 2030, ela será sozinha a maior causa de perdas (para a população) entre todos os problemas de saúde”.
Iniciativas simples para combater, ou pelo menos minimizar essas doenças estão sendo criadas e ‘acolhidas’ cada vez mais pela população. Um exemplo disso é a campanha mundial “Setembro Amarelo” que tem como objetivo, falar e conscientizar às pessoas sobre o suicídio, depressão, ansiedade, entre outros transtornos, mostrando à elas que existe prevenção em mais de 90% dos casos.
“Devido à dificuldade no tratamento, as pessoas ficam mais vulneráveis e acabam cometendo o suicido, diante de tais dados foi fundamental criar uma campanha para que esses números diminuíssem, então foi escolhido o mês de setembro para esse combate. Acho que essa campanha é um avanço para combater esses números tão altos de suicídios, e até mesmo das doenças mentais” – explica Ozinéia
A campanha aborda o tema ‘Falar é a Melhor Solução’ e muitos estão aproveitando as redes sociais para divulgar o ato, e até mesmo disponibilizando parte de seu tempo para ajudar a quem precisa, seja escutando seu desabafo, fazendo um elogio, e mostrando o quanto existem coisas boas em si, e que a vida pode ser um pouco melhor com a ajuda e tratamento adequado.
“Ainda existe o tabu de que ao falar sobre o assunto induz a pessoa a cometer o ato, mas isso é uma inverdade. A pessoa comete suicídio porque acha que é o único jeito de acabar com o sofrimento, mas quando ela é assistida e que ela não é a única que passa por isso, que tem tratamento, consequentemente os indicies de tirar a própria vida são minimizados.” – esclarece.
Vale ressaltar que todo tipo de doença ou transtorno mental tem tratamento e cura. E, a melhor forma de combater a doença e diminuir os níveis de suicídio é o acompanhamento médico, feito por um especialista.
Referências Bibliográficas:
http://www.ebc.com.br/noticias/saude/2013/05/saude-mental-em-numeros-cerca-de-23-milhoes-de-brasileiros-passam-por
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150922_suicidio_jovens_fd
http://www2.uol.com.br/sciam/artigos/o_descaso_pela_doenca_mental.html

(Fotos: Divulgação)